"When there's Magic in the Music ..."

quarta-feira, julho 12, 2006

Questões de Volume ...

As variações entre "um suspiro e um trovão" fazem-nos vibrar, quer a dinâmica seja imposta por um bom vocalista (o nome Coverdale vem sempre à mente), ou uma qualquer passagem instrumental melhor gizada. Essa dinâmica entre o acumular e o libertar de tensão é o que nos levanta e nos transporta, nos move física, intelectual e emocionalmente. Pegando num album dos anos 70 ou 80 (não remasterizado, leia-se) e ouvindo com atenção, é garantida a existência de uma razoável diferença entre os "picos" e os "vales" da música, ou seja, uma grande amplitude dinâmica. Alguns desses vales despertam-nos a curiosidade e levam-nos por vezes a escutar com mais atenção, e ao prazer de descobrir novas nuances que até então nos tinham escapado.
Se pegarmos num album mais recente, ou num album remasterizado, à primeira ficamos com a impressão de que o volume está mais elevado ... quando na realidade não está. A força desse primeiro impacto leva a que editoras discográficas, produtores e músicos forcem constantemente para que o volume de registo da sua música seja mais elevado, de modo a resaltar na rádio ... televisão ... CD ... e ultimamente, Web. Música mais alta capta mais rápidamente a atenção, mas com o tempo, e com a correspondente redução da dinâmica, a música parece monótona e cansativa, e redunda em ruído de fundo.
A amplitude dinâmica da música ao vivo é de 120 dBs, contrastando com os 75 dBs dos vinis e aproximadamente 90dBs dos CDs. A forma de "aumentar" o volume sem causar distorção (conhecida como "clipping"), consiste em comprimir o som, ou seja, diminuir artificialmente a amplitude dinâmica entre os "picos" e os "vales", o que, devido à forma como o ouvido humano reage às ondas sonoras, resulta numa percepção de maior volume. Para exemplo, basta comparar o "One Of Us" dos Abba, versão original, e versão remasterizada.
Com a incessante procura por maior volume, o recurso à compressão disseminou-se bastante a partir do início da década de 90. Há, no entanto, um album que se pode considerar como o grande ponto de viragem relativamente ao uso da compressão: em 1994, o album "(What's the Story) Morning Glory" dos Oasis apresentava um volume médio de -8dBs RMS. Para efeitos de comparação pode referir-se que o volume médio de albuns desse ano era de cerca de -12dBs (em 2005 foi de -9dBs), e o album "Appetite for Destruction" dos Guns'N'Roses de 1987 tinha uma amplitude dinâmica de -15dBs. Aqui tenho que meter uma grande colherada: sempre detestei Oasis - voz do tipo irrita-me ao ponto do ataque de nervos, e acho que musicalmente aquilo não passa de um conjunto de clones de 14ª geração a tentar imitar (e muito mal!) os Beatles. No entanto, eles fizeram um grande sucesso nos pubs ingleses, pois independentemente do ruído de fundo, a música sobresaía sempre ... estou a ver que isto do volume tem que se lhe diga ... resta saber se a minha aversão é devida à compressão ou se é potenciada pela mesma (inclino-me mais pela última opção).

O excesso de compressão contribui ainda para a redução da resposta transitória. O resultado é um som de bateria ou baixo sem profundidade (o que eu me farto de queixar sobre isto!) e música com um som genericamente baço, mortiço, estático e "inchado".
É muito raro ver pessoas com walkmans ou leitores de MP3 a "bater o pé", abanar a cabeça ou trautear uma melodia - a sua postura costuma ser tensa, com um olhar fixo e rígido ... ou seja, o contrário de que seria de esperar em alguém que está a apreciar aquilo que está a ouvir ... será que é apenas da compressão?

Para os menos preguiçosos (e caso estejam interessados em ler um pouco mais sobre o assunto) recomendo os seguintes artigos:
http://www.stylusmagazine.com/articles/weekly_article/imperfect-sound-forever.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Loudness_war
Quanto à solução para o volume de certas passagens estar bastante baixo ... os amplificadores trazem um controlo de volume - USEM-NO!